quinta-feira, setembro 08, 2005

Nada pode enriquecer mais nossa vida do que um livro

Um dia, em pleno inverno, Theodore Roosevelt subiu em um barco improvisado, no Rio Little Missouri, em perseguição a ladrões que haviam roubado seu precioso barco a remo. Vários dias depois, alcançou-os e os ameaçou com sua Winchester, rendendo-os. Roosevelt então tratou de levar os ladrões para entregá-los à Justiça. Percorreram as terras ermas e cobertas de neve até a cadeia da cidade de Dickinson, e Roosevelt caminhou os cerca de 65 quilômetros - façanha espantosa. O que torna o episódio memorável, porém, é que durante essa jornada ele conseguiu ler Anna Karenina, de Tolstoi. Penso nisso muitas vezes quando ouço alguém dizer que não tem tempo para ler. Estima-se que o brasileiro tenha em média quatro horas por dia para assistir à TV. Dizem que a pessoa comum lê à velocidade de 250 palavras por minuto. Assim, segundo essas estatísticas, poderíamos ler em uma semana os poemas completos de T.S. Eliot, duas peças de Thornton Wilder, os poemas completos de Maya Angelou, O Som e a fúria, de Faulkner, O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e o Livro dos Salmos. Ou então, no caso dos brasileiros, a obra completa de Machado de Assis, todos os poemas de Drummond, inúmeras peças de Nelson Rodrigues, além de livros memoráveis que marcaram a vida recente desse país, como Olga, Chatô e Corações Sujos, de Fernando Morais. Mas uma semana é muito tempo pelos padrões de hoje, quando as informações podem ser obtidas ao toque de um dedo. QUEREM NOS CONVENCER DE QUE INFORMAÇÃO É APRENDIZAGEM, E ISSO É CONVERSA FIADA. Saber a superfície de um estado ou a capacidade do salto de uma pulga pode ser útil, mas não é aprendizado em si. O maior caminho para a aprendizagem - para a sabedoria, a aventura, o prazer, a compreensão da natureza humana, de nós mesmos, do mundo e de nosso lugar dentro dele - está na leitura de livros. Leia sempre, a vida toda. Nunca inventaram nada que nos desse tanta substância, recompensas tão infinitas pelo tempo dedicado, quanto um bom livro. Leia à vontade. Deixe que um livro conduza a outro. Isso quase sempre acontece. Escolha um grande escritor e leia toda sua obra. Leia sobre lugares onde nunca esteve. Leia os livros que mudaram a História: de seu país ou do mundo. Leia os livros que sabe que devia ter lido, mas que imagina enfadonhos. Um clássico pode ser definido como um livro que é publicado por muito tempo quando é excepcional. Por que excluir o excepcional de sua experiência de vida? E quando ler um livro que lhe agrade - uma história que tenha ampliado sua experiência de vida, que tenha "acendido a chama" -, então espalhe isso aos quatro ventos. Levar um livro aonde quer que vá é um conselho bom e antigo. O presidente americano John Adams aconselhou o filho John Quincy a ter sempre consigo um livro de poesias. "Você nunca estará só tendo no bolso um poeta."
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(texto adaptado de David McCullough publicado pela Revista Seleções - Novembro 2000)